Date:Ter Ago 14, 2001 11:49 pm Texto:74 Assunto: Re: [ventania] Jogos de Manipulação Mensagem:1183

ALoha lista;

Aloha Dhyana

Concordo contigo quando dizes que a liberdade não pode ser arrancada, tem que ser cultivada, exatamente este cultivo que é tão delicado, por isso não podemos querer “seguir” os passos de Castañeda , TAisha e Florinda ou quem quer que seja, pois cada um tem sua própria caracterísitca.

Mas estas pessoas tem outro papel, são mitos. PErdemos muito em relação aos mitos com a adoção do filosofismo excessivo de nossos dias, ainda desconhecemos o poder do mito, o mito é outro estado de existência, é mesmo uma posição do sonhar, um sonho.

Só entrando num nível mítico podemos mesmo viver as propostas do xamanismo guerreiro e um mito é uma história viva, uma história que reatualizamos em nossa realidade existencial.

Assim existe uma diferença entre “seguir” o caminho proposto e “viver o mito” reatualizar o mito ritualizando-o em nossas vidas.

São conceitos sutis que temos de observar bastante, pois o que pode começar como mera imitação pode levar alguns a alinharem-se com um INTENTO que transcende tempo e espaço e então o mito é reatualizado.

TRilhas existem muitas, no exemplo do Kechan por exemplo é algo que interessa pensar que a mesma trilha pode ser trilhada por muitas pessoas e nunca será a mesma trilha, nem serão as partes percebidas as mesmas.

Sim, o caminho é solitário, aliás um dos grandes problemas para que as pessoas se aproximem de fato do caminho do(a) guerreiro(a) é isso, é a solidão do caminho.

Me lembro de Oomoto certa vez comentando que mesmo um grupo de pessoas em trabalho eram como bambuzais, podiam estar próximos , mas cada um com sua raíz.

E é esta a proposta do caminho, não criar muletas ou criar dependentes, mas ajudar quem deseja a estar cada vez mais ciente de si, ciente da realidade circundante e assim mais apto a despertar de fato.

É um desafio muito grande este do despertar, porque a quase totalidade que uma pessoa crê fazer parte do “caminho” é na realidade ainda lixo da vida antiga que quer se insinuar na nova proposta.

Já viram que os projetos sobre quebra da imunidade parlamentar ou diminuição do salário do legislativo tem raras chances de acontecer, pois o grupo não vai legislar contra si mesmo.

O conjunto de falsas personalidades que nos compõe, o conjunto de jeitos de reagir , emocionar e raciocinar que nos mantém hipnotizados e ausentes de si, não vão “tramar” para sua própria derrubada.

Assim, no começo, o trabalho pode ser tremendamente falseado quando projetamos nossos caprichos, medos e carências levando-nos a decisões que podem mais nos afastar que nos levar a meta da lembrança d enós mesmos, do despertar e da liberdade.

O grande problema me parece é a tal da projeção, ficamos projetando nossos conceitos nas pessoas, aí já queremos julgar, determinar se tal pessoa é mesmo “guerreira” se nao é , se é mais ou menos e nessa fuga, enquanto ficamos a julgar outros, escapa o único trabalho possível que é o que podemos realizar sobre nós mesmos.

Para um (a) caminhante atento tudo e todos são mestres e mestras do caminho. Se estamos sensíveis vamos perceber a mensagem na pena que voa numa rua movimentada, nos pássaros que passam, no sol, no céu, nas palavras que as pessoas dizem, enfim, o mundo se comporta de forma a ser todo evento e pessoa em nossa vida uma indicação, um sinal, um augurio de poder.

A questão é se vamos ler tais sinais com nosso lado em busca da Liberdade ou com o antigo e condicionado “eu” .

As pessoas quando saem para uma jornada de poder muitas vezes sentem o “mistério” o “algo a mais”, mas quando voltam ao cotidiano de suas vidas acabam mergulhadas, na maior parte das vezes sem nem se darem conta disso, no mesmo eu medíocre de sempre, medíocre mesmo , no sentido de mediano.

Quando se fala demais sobre o passado, sobre as pessoas que viveram emnossas vidas, quando falamos demais sobre o “mim” , “mim” , “mim” deixamos de dar espaço para o novo chegar .

O grande teste é sempre esse, se o eu mediocre vence ou a essência perceptiva optará por se alinhar com o conjunto de formas de ser que pode nos içar para fora desse atoleiro onde fomos colocados .

Outro ponto que me chama a atenção é o detalhe que citas de ser nada. Dá um trabalho danado a gente ser “nada” . Somos condicionados a “ser alguém” . É um apelo profundo que plantam em nós e que esta cultura de mídia acentua mais que nunca, o “ser alguém” , o “aparecer” , “brilhar perante o grupo.”

É preciso meditar profundamente para entender a quem estamos servindo, sempre fomos posto a servir alguém a querer agradar alguém, a ‘” provar” para alguém, pai, mãe, irmãos (ãs) , filhos(as) , companheiro(a) ,amigos (As), enfim alguém que em algum momento escolhemos como nossa “testemunha de vida” .

Isso é muito sério, um dos primeiros passos no caminho de xamanismo que trilho é descobrirmos quem são as nossas testemunhas. Muitas vezes elegemos estas testemunhas crianças e passamos a vida inteira “provando” coisas para essas testemunhas, que quando ausentes ganham ainda mais poder, por estarem mergulhadas em nossa psiquê e nos dominarem de dentro.

Não é dificil perceber quem sào as “testemunhas “ da nossa vida , é a pessoa, ou pessoas, pois podemos ter criado mais de uma, que citamos constantemente e em momentos diversos vamos nos ouvir “ fulano ou fulana precisava ver isso” .

Libertarmos a nossa energia dessa “testemunha” é fundamental, porque no xamanismo temos sim uma testemunha, mas não é ninguém , é o ESPIRITO< o INTENTO, algo que não pode ser descrito, mas que sabemos existir.

Essa TEstemunha silenciosa é nossa companheira constante e os (as) xamÃs guerreirosA(As) consideram cada ato realizado um ato de abandono e um ato “artístico” realizado para essa testemunha silenciosa.

Com atos refinados os (as) xamãs acenam para o Intento e convidam essa força misteriosa a vir até nós.

MAs para irmos a esta “testemunha” temos que nos libertar da testemunha humana que colocamos em nossas vidas e recapitular ajuda nisso também.

TEmos um problema muito sério com o poder, as pessoas querem muito manipular as outras, querem muito dominar e implantar seus próprios esquemas e isso gera todo um quadro social como o que assistimos, onde há uma disputa pelo dominar, pelo poder.

Sobre esse tema recomendo um filme chamado “Instinto” com Anthony Hoppinks, vale a pena , pois debate esse problema chave, a necessidade de dominar.

CAda um de nós tem uma experiência singular a viver, precisamos mesmo viver tal realidade singular, pois só dai podemos surgir enquanto “entidade” , enquanto causa, ao invés de continuarmos a ser mera consequência de eventos que foram deflagrados alhures.

O interessante que por mais que a gente deixe claro que não é nada, que está ali mas ninguém pode ter segurança nenhuma que vais estar no instante seguinte, mesmo que tenhas já no nome a idéia de efemeridade e passagem, como meu “Nuvem que passa” ainda assim tem gente que insiste em querer eternidade, em acreditar que pode mesmo contar com algo da tua parte, risos.

A loucura da dependência humana é sem limites, as pessoas aprendem, mas depois preferem esperar que apareça de novo outro alguém, outra idéia, outra “muleta” e desistem de provar que valeu a pena aprender e a única forma de mostrar que realmente aprendeu algo é enfrentando com eficiência as soluções de vida.

Quem se entrega e existem muitas formas de se entregar, apenas continua a ser o que sempre foi, o desafio não é esse, o desafio é ousar mudar, é responder de uma forma nova e criativa ao desafio imenso que é estar vivo, que é acordar toda manhã e enfrentar um novo e desafiante mundo a nossa volta.

e este desafio não acaba nunca, a cada instante é renovado e a cada instante podemos responder este desafio como guerreiros (As) ou como tolos (as).

É nosso poder realizar esta opção. O poder mais sagrado que temos.