Date:Seg Fev 25, 2002 11:07 pm Texto:106 Assunto: Re: [ventania] Re: Filosofia Esotérica Mensagem:1799
ALoha lista
Gostaria de ir mais fundo neste tema da reencarnação.
Existe uma parábola budista muito válida.
Conta o Buda que um homem foi ferido por uma flecha. Imediatamente veio uma pessoa para tirar a flecha e estancar o sangramento.
MAs ao invés de permitir isso o ferido começou a questionar de onde veio a flecha, que casta pertencia quem atirou, que material era feito a flecha, se quem atirou quis atingi-lo ou foi um acidente.
Resultado, morreu de hemorragia antes de ter respondida suas perguntas.
Por isso certas questões são consideradas um engôdo da mente, uma forma de distrair das verdadeiras metas enquanto perdemos tempo com elas as questões realmente relevantes de nossa vida ficam de lado e perdemos um tempo precioso.
Considero esta linha de colocação muito válida.
O mail do Lanceloth fala com clareza de como a crença na reencarnação caminhou da Índia até a interpretação espírita que impregnou o misticismo ocidental , chegando a reencarnação a ser tida como um “dogma” do esoterismo moderno.
Mas não é assim, o Caminho Tolteca não trabalha com a hipótese da reencarnação e quem se surpreende com isso deve saber que o Taoismo, ramos do Budismo ( chamados Anatmistas , isto é não crentes na presença de um ATMA, de um Eu que reencarna) , ramos da Yoga e vários caminhos iniciáticos também não consideram a reencarnação para todos como uma hipótese de trabalho.
Eu estou meio sem tempo aqui, estes momentos de responder mail são espremidos enquanto estou trabalhando paralelo no power point preparando os cursos de amanhã, por isso pediria alguem da lista que reinviasse o conto do tapete que mandei há uns tempos atrás, ali temos uma abordagem da questão do carma e das “lembranças de outras vidas” segundo a compreensão desses caminhos não reencarnacionistas que citei.
Este conto do tapete mostra que são fibras, fios que vão passando de um corpo para outro, como os genes o fazem, mas o tal “eu” não está presente, não “naturalmente” , só vem a existir se for criado.
Quando meditamos sobre isso, quando estudamos profundamente sobre isso surge um novo papel para o que chamamos de “escolas iniciáticas”, escolas de mistério e tal, entendemos que tais “escolas” são fruto da percepção dos ser humano do estado “mortal” que é o estado natural do ser humano e da possibilidade de ir além desse estado, de comungar com o estado dos “Deuses e Deusas” então todo o ciclo iniciático destas escolas e mistérios, para despertar e desabrochar nosso corpo de energia, nossa outra natureza, a que pode sobreviver a morte do corpo físico.
EStou dando uma olhada agora no anexo que mandaram , o anexo é uma matéria dentro da ótica Teosófica, a Teosofia é um sistema com bases principalmente no Vedanta, trazido ao Ocidente pela Madame Helena Petrovna Blavatsky, uma mulher admirável para sua época, com um poder pessoal tremendo, escreveu duas obras monumentais “Isis sem véu” e “A Doutrina Secreta” , foi a fundadora da Sociedade Teosófica.
Mas é consenso entre várias escolas ocultistas que HPB teve uma iniciação parcial, ela veio com conhecimentos de escolas ancestrais, mas a forma que coloca esses conhecimentos não é a mesma que outras escolas colocam.
Se estudarmos o trabalho de Gurdjieff veremos uma abordagem do mesmo tema com mais embasamento. Ele coloca que nós “não temos” os corpos sutis, mas podemos “construí-los” mediante trabalho árduo e disciplina, esse seria o papel inclusive dessas escolas iniciáticas, construir, gerar no ser humano o corpo de energia, para que possamos de fato reinvidicar uma continuidade existencial.
MAl temos o corpo físico, raros de nós realmente prestam atenção e tem consciência do corpo físico, não precisamos ir a meios místicos para constatar isso, uma boa terapia corporal, como Reich, Lowen, Fedelkrains ou Rolfing já demonstra que somos , na maioria das vezes, inconscientes de nosso próprio corpo só percebendo o mesmo quando ele dói.
Os laboratórios behavioristas ( a psicologia comportamental) tem demonstrado para irritação de tantos que o ser humano é muito mais uma resposta a estímulos que um ser consciente que toma suas atitudes por base em julgamentos próprios, as escolas iniciáticas colocam o mesmo, o ser humano está num estado robotizado , emoções , raciocinios e açoes que julgamos nossas, podem estar nascendo de estímulos diversos que o meio coloca, além dos estímulos que trazemos dentro de nós, como genéticos e as fibras que já viveram antes em outros corpos .
O que os caminhos iniciáticos tem de diferente do Behaviorismo é que trabalham com a possibilidade do ser humano se resgatar dessa alienação e “despertar” .
Esses temas abordados apenas em palavras e teorias perdem muito. Quando G. traça suas afirmações pelo fato que temos de gerar uma “individualidade” que somos um “aglomerado” que de manhã quer uma coisa e a tarde já esqueceu ele também traça exercícios vários que quem pratica vai comprovando a assertiva que no começo “somos um aglomerado” , um tapete composto de vários fios, oriundos de diversas procedências.
Quando estudamos esses temas em uma tradição não “ouvimos’ ou “lemos “ apenas, mas recebemos exercícios que vao nos demonstrar o acerto destas colocações.
Aos que pregam a evolução “natural do ser humano” algo como uma evolução espontânea G. responde que não podemos expandir a consciência sem nem temos consciência, como expandir algo que não temos?
Não podemos desenvolver a Vontade involuntariamente, sábias palavras para profunda meditação.
Não é fácil ir até esta compreensão, precisamos de energia, precisamos de uma flexibilidade perceptiva que na maior parte das vezes não temos, pois nosso ponto de aglutinação está preso numa posição que nega tudo isso, pois tais percepções nos colocam frente a frente com a efemeridade que somos, com o vazio que nos envolve e isto é demais para a maior parte das pessoas.
É por isso que D. Juan Matus insistia que só como guerreiros (a) podemos ir ao caminho do Conhecimento, o Conhecimento é avassalador e muitos não suportam, preferindo voltar e se rodearem de fantasias apaziguadoras.
E a reencarnação é uma das fantasias mais cômodas e apaziguadoras que conheço.
Há um artigo de G. que se intitula “ corpo astral é um luxo”, neste artigo ele trabalha com uma correta compreensão do que é corpo astral, o corpo formado pela energia dos astros (a teosofia faz uma confusão com o corpo emocional aqui) e como ele só vem a existência após um trabalho consciente e disciplinado.
TEmos o corpo físico, é tudo que temos, o corpo físico pode operar bem sem os outros corpos, mas podemos trabalhar e desenvolver o corpo de energia.
O Xamanismo tolteca considera o mesmo, o corpo de energia por força de vários fatores está imaturo e inoperante na maioria das pessoas, é preciso todo um trabalho consciente e focado para desenvolver o corpo sonhador como é chamado e então torná-lo uma unidade funcional, no qual a percepção pode atuar e agir.
Quando lemos a Arte de Sonhar ali está todo um trabalho sobre este despertar e amadurecer o corpo de energia.
Nos livros do novo nagual há pouquissima abordagem sobre o tema eencarnação, só vamos encontrar citações explicitas nas entrevistas que o novo nagual e as mulheres de seu grupo concederam.
Ali deixam claro que a teoria da reencarnação, tanto na sua vertente espírita como na vertente teosófica não tem ressonância na proposta Tolteca.
Para os(as) Toltecas somos eventos raros que existem na efemera realidade de uma vida, depois somos levados a voltar a fonte e a devolver a consciência a mesma fonte que nos a deu para que a maturassemos pela experiência da vida.
Isto fica claro, pois a linhagem Tolteca surge com os “desafiadores da morte” , lendo “O Fogo Interior” ficamos sabendo de quantos caminhos aberrantes os antigos videntes se envolveram para escapar da morte.
E os novos videntes nada mais são que herdeiros desse caminho, que descobriram algo transcendental, de nada adianta apenas desenvolver um corpo de energia para sobreviver a morte física, mesmo que dure mais mil anos esse corpo de energia também vai acabar um dia.
Foi aí que houve a descoberta desse misterioso estado que é a Terceira Atenção e então o cminho dos novos videntes é “arder no fogo interior” para atingir este estado que de Sonhar que é chamado metaforicamente de LIBERDADE INTERIOR.
Então fica claro que nem passa pelos paradigmas Toltecas nada relacionado a hipótese reencarnacionista, é outro caminho, outro paradigma, outra forma de trabalho.
Tanto a proposta Tolteca , como a de Gurdjieff e outros caminhos esotéricos partem de uma postura diferente da Espírita e da Teosófica, nestas últimas o ser humano é o ápice de um processo evolutivo, que vem caminhando até ele, para os Toltecas, como para as escolas de Quarto Caminho, o ser humano é um elemento a mais num vasto contexto cósmico, é uma enzima no vasto organismo cósmico, não foi “criado por um Deus a sua imagem e semelhança e para a glória de seu nome” é fruto de uma emanação, que tem em si as mesmas potencialidades da Totalidade de onde emanou.
Para o caminho Tolteca como para outras escolas similares o ser humano surge porque o Ser Terra precisava de um conjunto de enzimas que metabolizasse a energia cósmica que vinha dos planetas e do Sol, energias que o Ser Terra não conseguia absorver na sua forma bruta, como nós não absorvemos certas substâncias diretamente, precisamos da ação de enzimas para torná-las metabolizáveis.
Isto destrói nossas pretensões egóicas, tão habilmente manipuladas pelas religiões de massa, de sermos as criaturas diletas de um criador a “nossa imagem e semelhança” , mas os homens e mulheres que geraram o caminho tolteca e estes outros caminhos que citei não chegaram a tais conclusões por palpitismo ou achismo, pagaram preços tremendos para contemplar a Eternidade e realizarem estas descobertas.
Notem que é uma postura completamente fora do antropocentrismo vigente.
A reencarnação parece uma coisa lógica, inclusive alguns dizem : é a prova da justiça de Deus.
O xamanismo Tolteca considera esse conceito de deus apenas como um tonal dos tempos, inclusive em várias obras fica muito claro que ao lado da importância pessoal é este conceito de Deus que mais rouba energia do ser humano, dedicamos uma quantidade de energia imensa a algo que não existe de fato, o conceito de “Mar escuro de consciência” do Xamanismo Tolteca, que é de onde emanamos e para onde voltamos, não tem nada a ver com o conceito de Deus.
É o mesmo equívoco que vemos quando alguém fala, tudo é a mesma coisa, “Deus”, “Tao” .
Deus é um conceito que não tem nada a ver com Tao, o Tao é algo muito amplo e indefínivel, deus é um conceito antropomórfico, criado a imagem e semelhança do ser humano.
A reencarnação, tal qual é apresentada nos segmentos espíritas e teosóficos tem essa mesma característica, é uma doutrina ‘consoladora” pois acalma o ser humano .
PAra os (as) Toltecas a crença em outras vidas diminui o impacto da força da Morte, diminui o valor desta vida, única, efêmera, quando as pessoas julgam que tem a Eternidade pela frente ficm fracas, deixam de se trabalhar, tudo pode ser feito “amanhã”
Por isso no caminho Tolteca não há crença em reencarnação, isto é bem claro nos ensinamentos do novo nagual e das mulheres do grupo, elas citam isso claramente em vários momentos de certas entrevistas.
Um tema amplo , para debatermos com tranquilidade.