Date:Qua Jan 2, 2002 10:51 pm Texto:100 Assunto: Nossa tremenda sorte Mensagem:1647
Aloha lista Aloha Lobo
Muito interessante e importante teu mail. Tocas em pontos importantes e fundamentais da Trilha Tolteca. De fato o pragmatismo é um dos pontos mais importantes, mais fundamentais da trilha Tolteca, como disse D. Juan Matus os praticantes dessa Arte não são “espirituais” no sentido comum que se dá a esse termo, sao práticos. A trilha Tolteca começa negando todas as tidas “verdades” da quase totalidade dos outros caminhos chamados de esotéricos e espirituais. Enquanto tais caminho ficam tentando demonstrar que “somos eternos” , estamos só de passagem por aqui em direçao à pátria espiritual, somos imortais a Trilha Tolteca começa recomendando:
” Assuma sua condição de ser que vai morrer”
“Você vai morrer e o mar escuro da consciência vai dissolver tudo em você e tomar de volta a consciência, que ele lhe deu , no momento da concepção, para que pelo viver a desenvolvesse.”
“Pare de achar que é livre, que tem individualidade, que foi criado por um deus a sua imagem e semelhança e que se agir “bonzinho” vai se sentar a direita dele ( como canhoto não curto esse a direita , risos) e viver para sempre na glória.”
“Você existe como uma célula no vasto organismo cósmico, enquanto não nos trabalhamos tudo qu chamamos de emoção, raciocinio, reações que temos, tudo vem de programações geradas externamente, não agimos, reagimos”
“Deus é meramente um conceito do tonal desses tempos, não adianta mudar o nome e chamar de “grande espírito” , de “pai da vida” ou “Deusa” a sintaxe é a mesma , a crença e a consequente dedicação da nossa valiosa energia a algo que em si não existe continua” .
“O conceito de Deus ao lado da importância pessoal são os dois maiores drenos de energia que o ser humano possuí”
Bom, só com essas premissas seríamos postos a pontapés da maior parte das ‘ordens iniciáticas” e “mágicas” que existem por aí.
Então é bom deixar claro que o caminho Tolteca não pode ser usado para um sincretismo com outros caminhos, aquilo que as pessoas gostam tanto de fazer, pinçam os conceitos mais atraentes e confortáveis e misturam tudo.
Florinda ( do ciclo antigo) dizia claramente : Sö podemos entrar no novo caminho se fecharmos a porta para a velha vida.
Mas estas idéias não estão apenas no caminho Tolteca .
O Budhismo profundo, chamado esotérico, como o que Alexandra David Neil teve acesso, tem similitudes com esta proposta, eles também negam a continuidade, insistem na efemeridade e nem questionam a idéia de uma divindade, consideram que precisamos primeiro despertar , pois o que um ser dormente pode falar da realidade? Sö devaneios.
O Taoismo é de uma profunda similitude com o Caminho Tolteca, o livro da Taisha “A TRavessia das Feiticeiras “ demonstra isso através de Clara, que esteve na China e estudou a TRadição Taoista neste país.
Existem caminhos de Yoga, existem as escolas de Quarto Caminho de Gurdjieff , em todas elas vamos encontrar elementos parecidos, entretanto o caminho Tolteca tal qual apresentado pelo Nagual Isidoro Baltazar nos tráz um sistema instigante, colocado numa linguagem clara a nossa realidade.
Mas a clareza do sistema depende da prática, assim quem só “lê” a obra do novo nagual pode até achar que entendeu, mas provavelmente está apenas racionalizando e subinterpretando, pois é vital a prática para a efetiva compreensão dos conceitos ali apresentados, que são apenas capas para os “cernes abstratos” .
Isto é um alerta importante, o Caminho é para caminhantes e como já dizia o velho e bom Morpheus existe uma diferença entre conhecer o caminho e trilhar o caminho.
Os desafios do caminho não param aí, continuam com propostas muito pragmáticas:
“O mundo onde você vive é seu campo de batalha, olhe a sua volta, aí estão seus desafios” .
“apague sua história pessoal”
“não tenha rotinas”
“aja pelo prazer de agir, sem esperar nada em troca”
Como você bem coloca se a pessoa é um pizzaiolo, seja de verdade, plenamente, este caminho não tem lugar prá gente mais ou menos, que quer fugir da dura realidade da vida , dos fatos da existência, em fantasias esquisotéricas.
A TRilha Tolteca não pergunta o que você faz na vida, questiona como faz, se está focado e pleno a cada instante agindo como se cada ato fosse o último, se está num banco, numa famosa peça em cartaz pelas principais capitais do mundo ou lavando pratos num restaurante de fundo de quintal, não importa, se tua atitude é inteira, se desde o abrir dos olhos para um novo dia até o fechar destes para estemundo, cada instante , foi vivido com intensidade e presença.
Rituais são ferramentas, mas nenhuma ferramenta é mais importante que o ser humano que a manipula. é o enigma do aço do filme Conan, onde ao final de toda uma jornada ele descobre que o poder da espada está no punho de quem a utiliza.
Me lembro de ter estes tempos conversado com uma pessoa sobre espadas mágicas, lembrei de mim mesmo , quando adolescente, fascinado por tais coisas. Uma armadilha tremenda ter objetos de poder , despertamos entes , egrégoras e seres humanos ávidos destas bobagens que podem nos atrapalhar e muito no caminho, pois é muito fácil deixarmos de trabalhar o que realmente importa, a nós mesmos, a nossos horríveis hábitos que drenam a nossa energia , para ficar fantasiando que temos a espada tal, o caldeirão tal.
No passado quando a espada era uma arma de uso constante algumas escolas de mistério criaram um trabalho com tais armas, mas hoje? Prá que ficarmos nos enchende de objetos de poder se o que precisamos é de um poder apenas o poder pessoal que corre em nosso corpo e no corpo de energia, nada mais precisamos?
É nisso que a postura da trilha Tolteca nos ajuda muito, a irmos além dos brinquedos e ilusões e encararmos o que importa. Prá que rituais pomposos se o que importa é mover o ponto de aglutinação? Vamos direto ao treino do intento inflexível e não perdemos um tempo precioso, pois tudo que nao temos é tempo.
Antes de saber disso caí em algumas armadilhas, quase perdi minha vida por causa disso, e hoje percebo que poderia ter perdido minha chance de liberdade também, por isso considero que o caminho Tolteca é de grande perspicácia ao abandonar rituais mórbidos que só fixam nossa segunda atenção onde não deve ser fixada, neste mundo e em práticas obsessivas que valorizam buscas tolas de poder.
Nunca vou poder expressar plenamente minha gratidão ao novo nagual pela sua obra, que me encontrou num caminho totalmente similar aos antigos videntes e me ajudou a perceber o que era realmente importante.
Mas é muito importante evitar “castanedismos” o que o nagual viveu foi útil prá ele, pro tempo dele, pro espaço dele, procuro não a forma das vivências do novo nagual, mas os cernes abstratos que tais histórias contém.
Os cernes abstratos interessam, o que ele viveu valeu prá ele, mas a essência do ensinamnto tem grande valor e atualidade.
Os antigos tinham tremendas armas de poder, do que lhes serviu frente ao inimigo que atacou, com o ponto de aglutinação fixo em outra posição?
É algo que sempre me lembro quando estudo estas culturas ancestrais, tiveram seu valor mas foram subjugados, então temos que ir além deles, coisa que os novos videntes conseguiram, por isso o ensinamento dos novos videntes tem algo mais profundo e efetivo que do xamanismo em geral, os novos videntes sobreviveram, foram tão espertos que sumiram da história e continuaram suas aventuras cognitivas, enquanto todo o xamanismo tradicional não salvou , na prática, nenhum dos povos , quer da doença trazida pelos brancos , quer da destruição de suas culturas.
É um questionamento muito sério esse, pragmático, seguidores, adoradores de caminhos arrepiam aqui, mas o fato é mais forte que qualquer crença , o fato mais importante “ sobrevivência” não foi lograda pelo xamanismo chamado tradicional.
Ainda hoje tribos e povos nativos continuam sendo dizimados e os xamãs tradicionais pouco ou nada tem podido fazer por seus próprios povos, então vale a pena questionar tais caminhos como efetivos para a sobrevivência.
Nao quero dizer que os povos nativos e os(as) xamãs destes povos não tenham nada a nos ensinar, longe disso, temos tanto a aprender com eles (as) sobre tanta coisa, apenas digo que o conhecimento não é completo para nossa época, é nosso desafio acrescentar algo.
Uma das maiores evidências do poder do novo nagual está na sua coerência. Na era dos paparazi, onde ninguém consegue ficar livre de sua curiosidade, vejam a morte da Diana causa por estes, o nagual, sendo a personalidade procurada que era, só tem umas quatro fotos, contraditórias tiradas.
Temos que lidar com muito foco com a trilha Tolteca e seguir a velha recomendação: Feche a porteira! Se estamos do lado de cá , não vamos perder tempo com “misticismo” viajandões. Se estamos do lado de lá, não vamos perder tempo com “racionalismos” inuteis.
A TRilha Tolteca é árida e sem fantasia, mas rica em magia, só que magia aqui não é ficar tendo arrepios, fazer ritos para espiritos ou divindades de n panteòes e se contentar com “frissons energéticos.” A magia dos Toltecas é real, é a liberdade de perceber outras realidades , outros mundos, é como a divisa na ponte da Enterprise : “audaciosamente indo onde nenhum homem jamais esteve” .
Quando guri sonhava em ser astronauta, poder ir para outros mundos, quando adolescente tentei seguir carreira na aeronáutica só me afastando porque os exames físicos acusaram uma miopia o que me colocava no pessoal de terra e meu objetivo era voar.
Creio que podemos nos sentir plenamente felizes quando nossos secretos sonhos infantis descobrem a ponte para a realidade, hoje , com a ARTE do Sonhar recuperei esta possibilidade e posso explorar mundos, realidades das mais diversas sem ter que gritar “ sim senhor” e me expor a hierarquias de homens que acreditam que a guerra é o mercenarismo vil de seu jogo de interesses.
Entrar na segunda atenção e explorar conscientemente outras realidades é uma das mais empolgantes aventuras que posso conceber e está totalmente ao nosso alcance.
A trilha Tolteca é para caminhantes, não tem espaço para seguidores. É direta, para realmente nela seguirmos precisamos trazer até nós o “olho do dragão”, uma expressão Taoista que fala do olhar impessoal do Dragão que circunda a existência.
Algumas pessoas não suportam isso, preferem a indulgência e os emocionalismos da vida cotidiana, paciência é o caminho delas, merecem total respeito, cada um tem seu caminho.
Mas a TRilha Tolteca não vai por aí.
E para nela estarmos de fato temos que aprender a morrer para o mundo, sem esse carimbo da morte em nosso passaporte estamos nos expondo a perigos terríveis nesse caminho, mais que a vida, podemos perder nossa sanidade e foco.
Por isso D. juan Matus insiste : “só como guerreiros(as) podemos trilhar o caminho do conhecimento” pois a natureza do conhecimento é assustadora, joga por terra todas nossas fantasias mais caras e nos coloca frente a frente com a realidade de uma Eternidade predadora, onde só temos as chances que nos damos, onde não existem anjos ou papai do céu ou mamãe do céu cuidando de nós, só temos uma coisa : nosso poder pessoal que é gerado pela qualidade de nossas atitudes.
Sinto meu peito borbulhando de energia enquanto escrevo isso, uma alegria indizível toma conta de mim por sermos afortunados , ondas fluem por meu corpo e respiro fundo para que a energia nao se dissipe, pois esses estados emocionais precisam vir depois que o ponto de aglutinação já se deslocou para uma nova posição estratégica. Respirando fundo e intentando foco deixo que essa energia tremenda se concentre nos centros vitais , mas sem me esquecer o que motivou esse arroubo, o fato de vivermos na era dos “novissimos videntes” , de sermos afortunados por termos esses mapas que podem nos ajudar a evitar tantas armadilhas. A sorte de estarmos nesta lista, onde podemos partilhar estas informações, onde podemos nos sentir em harmonia com pessoas, muitas das quais nunca vi o rosto, nunca ouvi o tom de voz, mas que sei estarem ouvindo o mesmo chamado de lá, desta misteriosa condição que chamamos “INTENTO” , que está nos tangendo tranquilamente em direçào ao impensado, ao nunca vivido, ao sonhar que pode nos levar ao sonho final:
LIBERDADE TOTAL