Date:Qua Dez 27, 2000 11:25 pm Texto:26 Assunto: A batalha sutil da Tribo do Arco Íris
Olá Ventanias; Tinha lido algumas mensagens há um tempo atrás sobre questões de hemisférios, de poderes que assentam -se em cada direção cardeal, se isso interferia e como nos ritos do xamanismo. Hoje durante o almoço estava conversando com Melina, minha amiga e companheira, um dos meus ventos, que mora na China e ela me contou algumas coisas que gostaria de partilhar com vocês a fim de ampliar este tema que já foi aqui abordado. O papo começou quando ela comentou que uma das primeiras coisas que fez ao chegar na China foi encher uma pia e deixar a água escorrer para ver se realmente era ao contrário daqui. A ida de Melina para a China foi sua primeira saída de nosso hemisfério, antes viajara tão somente para os Andes e poucas vezes. Desse papo começamos a falar sobre a questão dos elementos distribuídos pelos pontos cardeais e então ela comentou: Na acupuntura quando se vai “tonificar” um ponto de energia tem um sentido de giro para a agulha, quando se vai “sedar” tem outro ( é mais que um sentido e girar lentamente para um lado, rapidamente para outro e tal) . Para aplicar a acupuntura aqui, no nosso hemisfério muda-se o sentido de giro das agulhas. Isso deixa muito claro a minha compreensão que o Chi flue aqui com características próprias ao momentum que estamos vivendo. Isto é , existe um fluxo de energia numa polaridade e direção no hemisfério norte e outro , distinto, aqui no hemisfério sul. Assim o sol aqui nasce de leste, vai para norte, depois para oeste e assim o fluxo de energia é “anti horário” apenas por que se convencionou dizer que do outro jeito é horário. Aqui a energia flui com outro sentido e os ritos solares, se seguem o movimento do sol, como os do hemisfério norte seguem, seguem tal sentido. Por isso o xamanismo lida diretamente com a Natureza. Hoje, um(a) Xamã contemporâneo alia o seu sentir o sol com o conhecimento que tal luz levou oito minutos do tempo no qual estams presos, para chegar até ele. Integramos conhecimentos, mas não mesclamos. Isso me parece muito sutil e importante de ser meditado quando começamos a trilhar o xamanismo. Ele é oriundo de outros tempos, oriundos de povos ancestrais, de povos que deixaram para trás esse mundo de escravos e se refugiaram em lugares ainda remotos, os últimos dos quais estão agora ameaçados pelos exércitos aliados aos mercantilistas de hoje. O Submcomandante Marcos é a ponta de um iceberg valoroso de homens e mulheres que tiveram de ir a extremos para defender o quase nada que resta a um povo que antes foi livre e feliz naquelas serras e vales, matas e desertos. O Xamanismo já se tornou artigo de boutique, já é apresentado em versões “ fast food”, já pode ser reduzido a um artigo de consumo e assim, mais uma vez, como fez com o ideal de nova era, com o ocultismo, esoterismo e muitos outros movimentos antes, o sistema escravizador cria uma simulacro de algo, e o simulacro age como se fosse o Mito em si, e nele atados , descobrem por vezes tardiamente, que simulacro é também prisão perceptiva. Por isso os(as) xamãs de hoje se ocupam em , sem se destruir , negar completamente a abordagem dominante da realidade e reencontrar o caminho de sentir o mundo como nossos ancestrais espirituais e genéticos o faziam. Assim o xamanismo tem algo de radical, no sentido que só quem pratica algum tipo de esporte radical, como viver conscientemente e sem fantasias, consegue entender. O xamanismo é uma outra abordagem da realidade assim estas visões que usam termos novos , mas repetem na realidade os conceitos dos antigos paradigmas, os paradigmas dos conquistadores, estes muito pouco tem a ver com os paradigmas do xamanismo. Os Xamãs guerreiros aprenderam a combater os conquistadores de forma muito sutil. Não concordando. Não concordando em ser neurótico só porque todo mundo é, não concordando em ser carente só porque todo mundo é, não concordando em ser indulgente só porque todo mundo é, não se contentando em ser preguiçoso(a) só porque todo mundo é. Como diz certa música, são os(as) xamãs que no centro da própria engrenagem, envoltos em tempestades e decepados entre os dentes seguram a primavera. Nós não concordamos. Não perdemos nossa energia alimentando egrégoras globais e vivendo “na moda” . Nós ousamos discordar, em cada instante de nossas vidas manifestamos essa rebelião sendo vivos num mundo de mortos, sendo felizes num mundo de gente triste e deprimida, sendo nós mesmos num mundo de pessoas que alienaram-se de si. Os(as) xamãs minam o mundo dominante quando agem artisticamente em cada mínimo ato, em cada mínimo instante, num gesto, num ato, num ato fugidio. Um grão de areia que intenta rearranjar sua estrutura cristalina para que seu brilho, dele, ínfimo grão de areia na vastidão do deserto, possa chamar a atenção daquele sol imenso, que está lá , presente. Alguns descobrem a si mesmos nisso e percebem que naquele único fio de luz que lhe ilumina, a totalidade daquele imenso ser também está presente. Assim , cada mínimo ato, cada instante é turgido de beleza, de harmonia, de Presença, de algo inefável que evitarei nomear para não limitar o que não pode ser limitado. É assim que travamos nossa batalha, despertos num mundo que dorme. Em cada minimo ato podemos negar esse falso mitote ao qual nos prenderam, a Rebelião da TRibo do Arco Ïris é sutil. Como um beija flor brilha enquanto vive, enquanto voa, enquanto se alimenta, brilha em si, por ser ele mesmo, é costume dos guerreiros e guerreiras do ARco Íris brilhar em si, cientes de que o caos interior apenas existiu para que agora nasçamos estrelas cintilantes. Em cada ato realizado com consciência e lembrança de si, em cada momento que passamos por uma árvore em uma rua e a Sentimos viva e consciente, apoiando assim esse intento, podemos estar minando a ordem estabelecida e criando as rachaduras necessárias para que a luz do Sol volte a entrar nesta senzala moderna chamada cidade. Estar em sintonia com o aqui e agora é levada a suas mais sutis implicações para um(a) xamã. Quando estamos completamente presentes, com todos nossos sentidos atentos, sensíveis, receptivos, podemos então notar que é mesmo aqui e agora que está também a outra realidade paralela a essa que coexiste com a nossa, mas que não percebemos , por termos sido trancafiados em masmorras perceptivas e atemorizados, em níveis diversos, para sequer desejarmos escapar das já invisíveis grades que nos cerceiam enquanto fazemos parte da “normalidade” vigente. A rebelião da Tribo do Arco Íris é auxiliar cada ser a saber que tem a ETernidade em si, que não pode deixar que o obriguem a mendigar por migalhas de um todo que lhe pertence naturalmente, que a religião não tem o único caminho para a transcendência, nem a ciência tem o único método válido de conhecimento, que podemos enquanto entidades singulares nos desenvolver a níveis muito mais amplos de participação na Eternidade que nos cerca. E realizamos isso quando ousamos “não fazer” , que é um conceito que gostaria de introduzir na lista como uma proposta de realizarmos juntos um exercício de loucura controlada. Todo mundo na passagem do ano se propòe o que “vai fazer” . O resultado já conhecemos… Vamos propor outra coisa. Vamos aproveitar a egrégora coletiva do momento e criar um exercício, vamos propor na passagem de ano o “não fazer” Quais vão ser os “não fazer “ desse ano fiscal que se inicia? já que estão todos falando de ano novo e fazendo planos, vamos brincar com a loucura desse mundo escravizado, sabendo que nada “cósmico” ou “ telúrico” acontece agora neste dia 31, mas que podemos usar o lado da energia egrégora da civilização dominante para um exercício de loucura controlada. O que vamos “ não fazer” no próximo ano fiscal? Para começar: O que é “não fazer” no conceito Tolteca”? vamos debater sobre isso”?