Date:Seg Abr 30, 2001 8:42 am Texto:59 Assunto: noite e sonhos Mensagem:869
” O sol não deixava nunca de iluminar e os índios kashenawás não conheciam a doçura do descanso. Muitos necessitados de paz, exaustos de tanta luz, pediram ao rato que emprestasse a noite. Fez-se a escuridão , mas a noite do rato bastou apenas para comer e fumar um pouco em frente do fogo, O amanhecer chegou e os índios mal haviam deitado em suas redes. Provaram então a noite do Tapir. Com a noite do Tapir puderam dormir um sono solto e desfrutavam o sonho tão esperado. Mas quando despertaram , tinha passado tanto tempo que as ervas espinhosas tinham invadido seus cultivos e esmagados suas habitações. Depois de muito buscar , ficaram com a noite do tatu. Pediram essa noite emprestada e não a devolveram jamais. O tatu, despojado da noite, dorme durante o dia. Obra já citada , página 29, 30. O existir da noite e do dia tem sido respondido pela mente ocidental com simplismo. A luz do sol brilha e é dia, de noite a ausência do sol gera a noite, escuridão. E assim tem sido aceito, pois as palavras tem essa magia de fingir explicar. As explicaçòes míticas foram confundidas em interpretações simplistas, onde a mente racional, nível para o qual as explicações místicas e míticas não tem sentido ou efeito, predomina. O mito não é um antecedente simplório da explicaçao científica, tão pouco está restrito ao religioso. Mitos são abordagens por outros níveis perceptivos . Mas não podemos limitar os arquétipos vivos dos mitos, nos estereótipos das interpretações lineares do mito. Usamos as palavras, mas compreendemos sua complexidade? Vejam o termo elétron, a real complexidade que está no ente localizado e mensurado no mundo subatômico, esta complexidade é rotulada : elétron e todos usam da palavra, do termo, mas pouquíssimas pessoas tem a efetiva compreensão do que é o elétron.. A luz é uma partícula tão complexa quanto o elétron. Fótons. Natureza dual, partícula e onda. Comportar-se como partícula e onda já é algo demais de paradoxal para a mente que ainda funciona pelos paradigmas dos modelos que começam a deixar de ser adotados na civilização dominante. A lenda acima parece pueril, imagine com que sorriso sarcástico o “padre”, “pastor” ou mesmo certos cientistas, não recebem tais histórias. Povos simplórios, adorando a natureza. Mas quando mergulhamos no sentido do rato e do tapir como unidades complexas de significação, símbolos ancestrais para expressar realidades próprias da cultura que conta a história podemos redimensionar nossa compreensão. Há a noite curta demais . Nela não se pode sonhar. Há outra que os sonhos vêem, mas são tão longas que a vida se passa em outros mundos, aqui o sonhar ficou mais forte que o dia a dia. Então o Tatu empresta a noite que é o equilibrio do dia. E como nunca lhe devolveram, hábito reincidente na espécie humana, hoje anda o tatu sempre em dia, mesmo quando outras espécies percebem à noite.